sábado, 17 de março de 2012

O dia em que fugi para o mundo de taxi

Sou uma mulher católica e temente a Deus por educação mas fodilhona por vocação. E parecendo que não, é uma combinação... que não combina.
A minha infância e adolescência não foram fáceis; sempre tive problemas de afirmação e de marcar a minha posição perante o que os meus pais esperavam de mim. Sempre fui rebelde. Um dos mais graves atritos com a minha mãe e que marcou a minha vida, foi logo no dia em que fiz os 15 anos.:
- Jacintinha, filha, como sabes prometi a nossa senhora que se tudo corresse bem com nascimento da minha filha, ia a Fátima a pé.
- Fogo...ainda são muitos quilómetros, mãe. Vai-te custar. Mas força nisso!
- Filha, não estás a perceber... Eu prometi que TU ias a Fátima a pé.
- O quê???? A velha passou-se! Tu é que prometes e eu é que tenho de cumprir??? É que nem penses. Vai tu.
- Filha, mas é assim que tem que ser, foi assim que prometi.
- Não, não e não. Não vou. Vai tu se quiseres. E sabes que mais? Estou farta disto, vou-me embora!
E depois deste episódio, decidi fugir de casa. Fugir para o mundo. De taxi, que logo por azar era Domingo e não havia carreiras.
O único taxi da terra era o do Zé Sete Cus. Não devia ser este o nome verdadeiro dele mas tendo em conta que parecia um boi de tão gordo que era, deduzo que a alcunha viesse daí.
- Sr. Zé, vou fugir para o mundo, tenho 300 escudos, leve-me para bem longe.
- Jacintinha, com esse dinheiro levo-te no máximo até Reconques.
- Reconques?? Isso é a 3 km daqui! Se é para fugir, tem que ser para longe, não acha?
- E com 300 escudos querias ir para onde? Badajoz? Lamento mas não dá para mais.
- Pronto, leve-me lá para Reconques.
Claro que mal os meus pais deram conta da minha ausência, trataram logo de espalhar pela aldeia o meu desaparecimento e até chegar aos ouvidos do Sete Cus e ele contar tudo, foi um instante. Lá foram eles no próprio dia buscar-me a Reconques. Ainda lá, no jardim onde me sentei a pensar na vida, levei um enxerto de porrada. Depois o castigo foi internarem-me num colégio de freiras. E se pensavam quer era lá que eu me endireitava, enganaram-se...

1 comentário:

  1. Jacintinha, querida, faz parte da rebeldia da adolescência.
    Também tengo histórias para contar, mas sou uma mulher casada.

    ResponderEliminar